O Desterrado
Inquieta-me este silêncio…
Inquieta-me olhar esta mancha branca de pedra e sentir, sem palavras, uma mistura de sentimentos tão heterogénea e ao mesmo tempo estranhamente harmoniosa.
Que penso eu?
Não penso, sinto…
Sinto uma nova sensação de paz, uma falsa paz, que em vão tenta sufocar a revolta que vai cá dentro…
E o desterrado nem olha para mim!
Detém-se, perdido no nada, no vazio desta imensa galeria.
Mas eu continuo a observá-lo…
Ganho coragem e pergunto-lhe:
- Serás tu o verdadeiro desterrado? Afinal onde reside o desterro?!
Não será no nosso próprio olhar, quando esperamos ouvir as palavras que teimam em não chegar?
Não será dentro de nós próprios, quando a luz ao fundo do túnel se paga no momento em que precisamos que brilhe mais?
Não será no medo de um doente que vê chegar a triste partida que, inevitavelmente, não podemos adiar?
Terá sido nas mãos do criador de tão grandiosa obra?...
O tempo passa… As respostas não ousam aparecer!
E eu olho mais uma última vez, sem me despedir sequer, e venho embora.
Mas já não venho sozinha…
Trago comigo uma nova companhia, uma estranha harmonia que me fez sorrir quando o sol me iluminou o rosto!
Também eu, algures no tempo, distante de tudo, me senti desterrada.
Porém, ao renascer, compreendi que o desterro, tal como a dor ou a própria falta de coragem, é efémero e nem numa simples escultura ele se consegue afirmar sozinho, sem despertar em nós outros sentimentos… Gracinha
2006
4 comentários:
Revi-me nesse texto! :)
beijo
Sutra
Hum mas o tempo acaba por nos elucidar... gosto de acreditar nisso.
Sutra
Acho que todos nós, em algum momento da nossa vida, já nos sentimos perdidos, ou sem esperança...
mas também são essas etapas que nos ajudam a crescer :)
S*
Eu acredito que sim, que o tempo é, sem dúvida, um bom conselheiro ;)
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